Estou sem fones, mas ouço tudo como se estivesse com um. Todo som passa a ser mais perceptível. Alto. Forte. Frequência cardíaca que acelera. Que é irregular. Como se anda mesmo? Meus pés estão invertidos. Minhas mãos não sabem o que fazer. Mordo os lábios com força o suficiente para fazê-los sangrarem. Mas não sangram. É apenas uma mecha de meu cabelo vermelho. Meus olhos são indecisos e não pousam em nenhum lugar específico. Estou atravessando A área. Nem sei porque passei por aqui. Minto, sei sim. Foi automático. Pelo menos não procure por ele. Ops. Aconteceu de novo. Pare de olhar. Lembre-se de respirar. Mais devagar. Tudo está devagar demais. Esse corredor não termina? Um sorriso. Torto, diferente. Perigoso. Absorvo cada pedaço. Seria um retrato perfeito, e eu me lembraria de cada pixel. Respondo com outro. Aquela música começa a tocar na minha cabeça. Um alegretto, se não me engano. Não me lembro de teoria. Mas sei que a bateria sincronizou com minha pulsação. Dessa vez não era de ansiedade. Era bom. Fez meus olhos ficarem mais fechados, fazendo aquelas ruguinhas nos cantos. Queria ser discreta. Controlar alguns impulsos, pensar no que falar para não acontecer o que sempre acontece: criar toda uma cena com o roteiro perfeito que me levaria ao final perfeito. É forte a sensação em mim e deprimente ter um baque com a realidade. Não, isso não aconteceu. E a última etapa é a pior. Por que você fez isso? Por que falou isso? Por que mexeu tanto os braços? E outros porquês que só servem para me torturar. Comparar a expectativa com a realidade.
Ai, céus.
Pensei nisso como um filme. Seria legal ver minha perspectiva de vez em quando. Imagino os créditos subindo, com meu nome no topo. Queria seu nome ali. Não como principal, mas também não como figurante. Um rostinho bonito para deixar um mistério, e quem sabe, uma boa história? Não me importo que não seja uma história longa. Quantas curtas não são melhores que muitas longas-metragens? Uma lembrança interessante que fizesse questão de relembrar todos os dias. Não sou do tipo que olha, se apaixona e pensa na cor do quarto dos filhos que vamos ter. Sou do tipo que sente mais quando revive na cabeça. Quem sabe você não me ajuda com isso? A ligar minha mente quando tudo estiver dando certo. Sendo otimista, claro. Tão otimista que toda essa linha já pegou as duas horas do filme. Espera. Vai que tem uma cena extra no final. Vai que vale a pena.
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ResponderExcluirnossa, tão realista este conto que a gente se pega imaginando as cenas, dando cada passo junto com a personagem. Além disso, teve a metáfora com os filmes,curtas e longas metragens, uma ótima sacada *-*.
Enfim, parabéns.
http://www.viciodiario.com/
E não é mesmo que a gente faz tantas coisas no automático.. o bom que temos consciência do que fazemos e que podemos mudar nossas ações.
ResponderExcluirTecido Doce
Sorteios
O texto ficou realmente belo. Eu sei bem como é me sentir confuso, indeciso e você conseguiu deixar tudo isso claro e poético. Adorei muito o texto. Seguindo.
ResponderExcluircronicasdeumlunatico.blogspot.com