Frágeis

Nota mental: 29º noite em que não durmo. Não durmo porque sinto que não fiz tudo o que meu dia renderia e preciso trabalhar. Preciso trabalhar. Não durmo porque descobri que a foto que tanto amei foi feita de uma combinação de luzes de frestas de persiana combinada com o reflexo de um prisma e preciso testar. Não durmo também porque sonhei acordada com a combinação de cores mais tocante e imaginei ela compondo o cenário do beijo mais macio. Também imaginei porque a segunda parte me afeta tão menos do que à maioria das garotas.

Quer dizer, não vou dizer que sou fria, racional e calculista. Sou regida pela imaginação e ela me leva até onde bolhas de sabão alcançam. Talvez um pouco mais alto ou sei lá. Bolhas são muito frágeis. Mas de longe, parecem até livres. Moldaria a personalidade de uma pessoa me baseando em uma bolha. Inclusive o momento em que elas estouram. Você sabe, até a pétala mais bonita um dia cai. Mas gosto dessa fragilidade. Pessoas frágeis (na verdade, pessoas que reconhecem sua fragilidade) tendem a valorizar mais tudo e qualquer coisa. Tirar algo de bom até do pior. Não sorria apenas se estiver sendo filmado, mas coloque a placa no seu quarto se achar legal ter um lembrete. Eu segui essa ideia.

É deprimente ser perfeccionista. É deprimente porque enquanto sua criação não for ideal, ela não vai sair da sua cabeça. Não sai dos seus ossos, das suas conexões neurais ou dos dentes, mordendo a boca. Não sai e tortura. Principalmente se você descobre que o que você precisa vai além dos seus limites. Eu digo isso por sofrer disso. Essa é minha fragilidade. Uma das.

E o interruptor resolveu fazer uma brincadeirinha ao se esconder. Não dá para desligar os pensamentos. As ideias. Sei que se perder o rastro de qualquer uma, provavelmente nunca vou vê-la de novo. E preciso trabalhar. Vendi minha vida a isso. Eu me apaixonei pelas ideias e vivo apenas por elas. E só sobra espaço para partir um coração ou dois. Talvez mais. Não percebo. Minha atenção é voltada da cabeça pra fora. O trânsito na cabeça é complicado.

É como se eu precisasse mais do que humanidade. Pessoas, carne, osso. Cabelos, olhos azuis. A ambição platônica também chega como uma facada. É o choque de realidade entre um floco de neve e o chão. E fim. No fundo, sabe que acaba, mas sempre vai procurando frestas para ir se espremendo, derretendo e tentando achar o resto do caminho. Tentando absorver ao máximo de tudo. 

E eu tento. Mas ainda estou aprendendo que a imperfeição também pode ser perfeita.