ASJ- Preciso sair daqui

'You're a prisioner of your imagination...'

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Assunto: Preciso sair daqui.

O lugar é claustrofóbico, cinza demais. Cheira a picuinhas, e é isso o que eu vejo. É quente e um ambiente desconfiado -mais do que o normal. A cada passo, vivo um conflito entre 'ser invisível' e 'ser notada demais',  e do pior jeito possível. Estou presa, as barras tem cerol, há cerveja no chão e uma chave para sair pendurada no meio do mofo, ao lado de uma placa com o número 49. A maior ironia é que perdi completamente a noção do 'dentro e fora', e se eu sair, tenho a impressão de que vou cair em outra pior ainda. Talvez.

A chave é uma máscara de aparência emborrachada, como o rosto de uma boneca. A mesma máscara que costumava ver enquanto ainda estava lá fora (?), com a maior inocência do mundo. Eu via como o rosto das pessoas era estranho... Como se fosse de plástico. Não ajudava nada o fato de que alguns desses supostos rostos descolavam e não encaixavam direito sob a pele.

Lembrava disso enquanto escrevia uma outra carta, parecida com essa. Sem destinatário, pois uma carta dessas só se entrega a quem confia. Mas como se pode confiar em pessoas cujo o rosto de plástico descola aos poucos e elas nem reparam? Não entendo.

Várias pessoas que estavam naquele corredor comigo se entregaram e usaram a chave. Nunca vi seus rostos, apenas sabia quando ouvia as grades abrirem automaticamente e vê-los caminhando para a saída. Pergunto-me se seria essa a escolha mais sensata. Talvez eu seja a louca nesse lugar mesmo. A cada dia, vejo as pessoas irem embora com um olhar um tanto psicótico no rosto. O problema está aqui?

Metade do rosto passo chorando com a cabeça entre as pernas. Esse lugar asperamente uniforme me dá náuseas e essa é uma forma de parar a tontura. A outra metade fico escrevendo castas e mais cartas sem destinatário. Guardo todas dentro de meu colchão, mas periodicamente tenho que tirar, se não fica impossível dormir também. Aliás, era o que eu devia estar fazendo agora.

Um beijo.

Eu