tic.... |
Acordei com pingos de chuva na janela. Olho para o relógio: 7:23h. Atrasada de novo. Pulo da cama e corro para o banheiro, para tentar resgatar alguns minutos antes que ouça outro sermão do meu chefe. Atrasos nunca são toleráveis, cada segundo é precioso.
Tomo o banho mais rápido do mundo, visto minha calça, abotoo minha camisa e coloco o relógio no pulso. Quanto mais olhar para o relógio, mais devagar o tempo passa. Quem sabe funcione dessa vez?
Chamo o elevador. Desço os 3 andares em direção ao térreo.
"Por que tanta pressa?" perguntou o senhor da portaria.
"Atrasada de novo" respondi.
"Mas hoje é feriado!" me respondeu, me olhando como se duvidasse de minha sanidade.
De repente, toda a tensão de meus músculos era perceptível. Agradeci e voltei lentamente para o meu apartamento.
Joguei o sapato em um canto e me sentei em minha poltrona favorita. Levantei sem vontade pouco depois, para molhar o rosto.
Vi muitas rugas no espelho, e vários cabelos brancos. Me senti velha e cansada. Andei desanimada até meu quarto e fui arrumar a bagunça que ficou na pressa. Me agachei em frente ao armarinho do lado da minha cama e comecei a separar cremes, maquiagens e todo o resto que estava caído no chão. Comecei a tirar as caixas do armário e resolvi que iria aproveitar o feriado para jogar algumas coisas fora. Minhas caixas em organizadas. Eram muito diferentes nas estampas, o que me fazia ter mais agilidade para guardar cada coisa em seu lugar. E perder menos tempo. Mas uma pequena caixinha me chamou a atenção. Ela era azul bebê e tinha várias nuvens brancas desenhadas. Puxei-a do fundo e limpei a camada de poeira que havia nela.
Não me lembrava de ter trago na viagem, mas destravei sua pequena tranca de metal e a abri, curiosa.
De repente, eu me lembrei. Minha curta infância, minha curta inocência e o pouco que eu havia aproveitado dela estava ali.
Uma bonequinha de porcelana que me lembro de ter comprado em uma loja na esquina da minha antiga casa depois de ficar um mês juntando moedas. Um diário com capa de couro aberto com zíper que escrevi dos meus sete até meus nove anos. Um carrinho vermelho que ganhei em uma brincadeira de adedanha com um amigo cujo nome não me recordo, mas começava com "T". Um gameboy que meu pai havia me dado contra a vontade da minha mãe, que acreditava que era coisa de garoto, na minha adolescência (e nunca havia jogado, pois estava trabalhando, ocupada demais para brincadeiras). Uma pulseira dourada com pingentes pequenos, que carrego sempre desde que era um bebê. Uma caixinha branca cheia de selos que eu costumava colecionar. Um laço rosa com bolinhas brancas que achei no chão mas me atraiu ao ponto de guardá-lo. Uma foto de família com meus pais e irmãos em preto e branco. Uma moeda de dez centavos de euro, que minha vizinha me deu de quando trouxe de Paris.
E um relógio de bolso que ganhei do meu avô na época em que começaram a me dizer para me preocupar com o futuro, quando eu tinha meus dez anos de idade.
E comecei a chorar.
Parei e pensei. Gastei tempo demais da minha vida planejando o que vinha depois, o futuro, o emprego, o casamento que nunca parei para pensar, para me divertir e pensar no presente. Mas se algum dia havia pensado em guardar a caixinha, significa que nem tudo está perdido. Talvez ainda tenha tempo de aproveitar minha vida sem ter que ficar olhando os ponteiros do relógio para ter a sensação de que tudo passe mais devagar. Pensei em começar a ler o diário, mas ouvi a porta da frente ser destrancada e minha filha de seis anos ameaçando pular do colo do pai estava com um pequeno embrulho na mão. "Não vi você quando acordei, então fomos na padaria comprar algumas coisas e passei no correio para pegar o presente da princesa." disse, guardando o guarda-chuva e ela correu e pulou na cama, rasgando ansiosa a embalagem quadrada. Depois de ver o clima animado da casa, pensei "Por que não?" e resolvi que a partir daquele momento, iria mudar tudo. "Que tal se nós viajássemos?" Meu marido me olhou preocupado. Continuei. "Vamos para a Disney! Faz séculos que não saímos e ainda não peguei as férias do serviço. Nem que seja por uma semana..." Vi a expressão dele mudar de surpresa para uma mais tranquila. "Faz anos que espero por uma reação assim sua."
E juro que a partir desse dia, meus cabelos brancos sumiram...
perfeição, a gente se vê por aqui *-*
ResponderExcluirPuxa Mush, que perfeito! Amei, super detalhado e parece que estamos dentro da história >.<
ResponderExcluirTá rolando um sorteio no blog Por Trás do Rímel de um produto da minha loja online, a Hanna Banana Store. Dá uma passada lá Mush http://portrasdorimel.blogspot.com.br/2012/10/sorteio-de-aniversario-loja-hanna-banana.html
Beijos, Caroline Ferraz www.hannabananastore.blogspot.com
Ameeeeeeeeeeei :o Quê isso, faz um livro dessa história?Que lindo, que lindo, que lindo *o* Tô sem palavras, Mush. Ah...eu já t contei q adoro teu cabelo? Bom, agr vc já sabe AUSAUSHAUHSUAHS Esse tom de ruivo é lindo :3
ResponderExcluirxo,
its-becky.blogspot.com
Poxa, ficou muito lindo :3 amei de verdade, parabéns !
ResponderExcluirhttp://meusdvaneios.blogspot.com.br/
Lindoooo. Você escreve super bem :D Vai ter continuação????
ResponderExcluirBeijos, Isa do Fala, Isabela!
Lindo! realmente temos que aproveitar o presente da melhor forma :D
ResponderExcluirbeijoss
http://designermaniagiovana.blogspot.com.br/
Texto lindo! Com o tempo vamos nos esquecer de grande parte dos nossos planos, de tudo que a gente quer. Tanto pela rotina, quanto pelas novas prioridades. Mas alivia saber que sempre teremos uma velha criança pra nos lembrarmos no que realmente importa (: Beijos!
ResponderExcluirPerfeito seu texto
ResponderExcluirAmei cada detalhe, incrível!
Vou confessar que não tenho paciência pra textos mas esse seu me chamou atenção desde a primeira linha :)
bjãoo
Mar que criatiiiiiiiivo menineeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
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